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Eduardo Fajardo Soares pouco precisou sair do campus para encontrar seu caminho profissional. O futuro foi trilhado dentro da própria Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), após conclusão da graduação em Arquitetura e Urbanismo, em 1981. Tão logo se formou, passou a integrar a equipe do Departamento de Planejamento Físico e Obras (DPFO) da UFMG. E, após 2004, agregou no currículo a cofundação do Laboratório de Arquitetura Pública (LAP), da Escola de Arquitetura.

Por longos anos como servidor da UFMG imerso no campus Pampulha, praticamente deu uma nova ‘cara’ aos prédios e áreas comuns da universidade, favorecendo a integração e convívio entre servidores, docentes e alunos, oportunidade em que colocou em prática a reciclagem, uma de suas preferências na restauração e renovação de ambientes.

A arquitetura com ênfase em espaços acadêmicos norteia a trajetória de Fajardo e também foi o que o levou naturalmente a desenvolver projetos que culminaram no que chama de ‘arquitetura sindical’, quando o trabalho do arquiteto e urbanista resulta em movimentos concatenados  com reivindicações dos trabalhadores por espaços dignos, adequados ao trabalho. Um exemplo desse viés foram as reformas do setor administrativo que funcionava em antigos e precários galpões de obras do início do campus. Dentro do projeto de requalificação e reformas da Área dos Serviços Gerais do Campus (Projeto RASG), as instalações foram reformadas, requalificadas com a criação de espaços de convívio, de lazer, de apresentações artísticas de refeições coletivas. “A intervenção respeitou a linguagem arquitetônica do local e priorizou o reaproveitamento de material. O local foi transformado e, acima de tudo, humanizado”, pontua Fajardo.


A insatisfação dos servidores que atuavam naquele ambiente inóspito foi o pontapé que faltava para a Reitoria atentar para um grave problema e agir para saná-lo. Assim como outras intervenções realizadas no Campus, as mudanças possíveis dentro do Projeto RASG também fortaleceram o engajamento dos servidores na luta pelos seus direitos. “Eclodiu um movimento de luta de classe, uma percepção como cidadão, como servidor, no sentido de resgate dos direitos trabalhistas inclusive”, além de um forte movimento artístico e cultural massivo no campus que eclodiu no Projeto Rosas de Abril, com apresentações e festivais de música, de teatro, esportivo, de artesanato que envolveu toda comunidade interna e da vizinhança’, afirma Fajardo. O arquiteto e urbanista, natural de Leopoldina (MG) faz questão de exaltar sua veia sindicalista que o levou a presidir por 13 anos o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas (Sinarq-MG) que ia ser fechado pela administração anterior, período que ele classifica como de “muita luta pela participação na categoria no movimento sindical e pela contribuição associativa”. Também fora do campus da UFMG teve participação em projetos importantes como o da Biblioteca e do Centro de Laboratórios da Universidade Católica de Brasília.

Em outra frente dentro do Projeto RASG, foram feitas adequações em antigos galpões que no passado serviam como depósito e cujas condições desagradavam os servidores que atuavam como jardineiros do campus.  Também com o uso de sobras de materiais de outras obras e muita criatividade o local foi transformado e passou a abrigar o vestiário dos jardineiros.  Fajardo conta que a edificação foi a primeira do campus a receber um sistema de aquecimento de água por meio da energia solar – projeto implantado junto com a companhia de energia do Estado de Minas Gerais, a Cemig. O sucesso da intervenção foi tanto que os funcionários batizaram o prédio de Jerônimo F. Martins, uma homenagem ao mais antigo jardineiro da turma, e fizeram questão que fosse devidamente inaugurado com a presença do Reitor, e numa simpática apropriação apelidaram a estrutura de “nave espacial”.

“A obra não valorizou apenas o espaço físico, mas levou também dignidade e inserção aos servidores que atuam naquela área”, destacou Fajardo, lembrando que a arquitetura é capaz de transformar espaços e ao mesmo tempo promover a qualidade de vida mesmo em pequenas intervenções. “Nem sempre esses valores são reconhecidos, mas fazem uma diferença enorme para quem recebe”, pontua o arquiteto e urbanista de 68 anos, casado com a Renata e pai do Pedro.

O verde, aliás, está presente em seus projetos dentro do campus. “Confesso que não sabia que estava fazendo arquitetura biofílica há 30 anos’, brinca Fajardo em suas redes sociais ao comentar novas tendências de integração de áreas verdes nas cidades. De fato, estava. O prédio da Escola da Ciência da Informação (ECI) da universidade é um exemplo do uso de vegetação capaz de renovar ambientes.  “A proposta foi além da questão paisagística. A ideia foi tornar o espaço atrativo e confortável do ponto de vista ambiental, levando bem-estar à diversidade de pessoas que transitam no local”, conta Fajardo.


A estrutura da ECI figurou recentemente numa publicação da revista eletrônica internacional ARCHDAILY, no Guia de Arquitetura dos 25 prédios de Belo Horizonte a serem visitados, naturalmente pela sua proposta de reunir beleza e funcionalidade com impacto positivo no bem-estar dos usuários. O mesmo conceito foi aplicado na Escola de Belas Artes, onde Fajardo foi responsável pela ampliação reestruturação do prédio, onde implantou um pátio coberto, translúcido que além de elemento articulador dos espaços do prédio, serve como local de convívio, exposições, apresentações e aulas ao ar livre. É também autor do ante projeto da Praça de Serviços do campus, que foi desenvolvido por uma equipe. Na prática, a concepção foi apenas mais uma que exalta o uso múltiplo de espaços que Fajardo defende com unhas e dentes. “Variadas funcionalidades e atividades dentro de um território fortalecem vínculos, estimulam a participação e promovem a interação de pessoas de diferentes perfis. Inclusive no campus”, afirma o arquiteto e urbanista. Fajardo também é autor do projeto do Laboratório Avançado de pesquisas do macaco “muriqui”, ou “mono carvoeiro “, o maior primata da América, ameaçado de extinção, no município de Caratinga/MG, e da biblioteca do Núcleo de Ciências Agrárias/UFMG no município de Montes Claros.


Fotos: Eduardo Fajardo Soares
Fonte: Imprensa FNA

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