Viver sem um teto para morar não é opção, é necessidade. Consciente da realidade que atinge mais de 200 mil de pessoas no Brasil, a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) homenageou, na noite desta sexta-feira (26/11), quatro iniciativas que fizeram a diferença na luta pelo acesso à moradia e por uma arquitetura voltada
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Viver sem um teto para morar não é opção, é necessidade. Consciente da realidade que atinge mais de 200 mil de pessoas no Brasil, a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) homenageou, na noite desta sexta-feira (26/11), quatro iniciativas que fizeram a diferença na luta pelo acesso à moradia e por uma arquitetura voltada para o interesse da sociedade e não do capital. A linha mestra foi destacada pela presidente da FNA, Eleonora Mascia durante a cerimônia de entrega dos prêmios Arquiteto e Urbanista do Ano e Prêmio FNA. Segundo ela, há uma unidade de discurso entre os premiados que reproduz com maestria a ideologia e luta que congrega os sindicalistas em torno da FNA. “Em momentos difíceis como esse é importante esse reconhecimento a projetos que fazem a diferença por justiça social e igualdade de direitos em nosso país”. A cerimônia ainda contou com a participação dos integrantes do Conselho Consultivo da FNA Valeska Peres Pinto e Eduardo Bimbi e foi conduzida pela secretária de Comunicação da FNA, Fernanda Lanzarin.
A grande premiada da noite foi a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Regina Bienenstein. Com carreira dedicada à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), ela emocionou-se ao ouvir depoimentos de familiares e colegas que destacaram sua atuação junto a comunidades carentes e na formação de geração de Arquitetos e Urbanistas. “Ser arquiteto e urbanista significar ter responsabilidade com os edifícios que se projeta, mas também com o impacto que eles causam. Que cidade é essa que estamos construindo? Esta consciência começa na universidade, que deve formar profissionais tecnicamente eficientes e capazes de exercer criticamente sua atividade e exercitar neles a responsabilidade com a sociedade e, principalmente, com as classes populares”.
Empenhada em formar profissionais desatrelados aos anseios do mercado imobiliário, ela reforçou que receber um prêmio nessas condições e ao lado de companheiros de luta realmente é um orgulho. “Nos últimos anos, os direitos dos trabalhadores estão se desfazendo. A universidade e a ciência viraram alvo porque representam espaços de perspectiva de libertar a população, especialmente as classes populares. Por isso, mais do que nunca é preciso resistir”, conclamou.
Em sua fala, citou as lideranças de movimentos populares que, ao seu lado, foram agraciados nesta noite e mencionou que são “exemplos de persistência e resistência”. “Ainda há um desafio a romper que vem se afirmando desde a década de 90, que é um planejamento de cidades boas para os negócios e para quem pode pagar. Precisamos de novas cidades, cidades de direitos.”
Anualmente, a FNA também premia iniciativas que convergem com as bandeiras de luta do movimento sindical dos arquitetos e urbanistas. Neste ano, o Prêmio FNA 2021 foi entregue a três iniciativas voltadas à habitação popular. Em nome da Pastoral do Povo de Rua, a madre Cristina Bove inflamou a conversa com uma fala contundente sobre os direitos e enfrentamentos dos moradores de rua. Segundo ela, mais de 220 mil pessoas vivem sem teto do Brasil, uma realidade cruel e cheia de preconceito, onde a falta de renda é sinônimo de criminalização e violência. “É uma população invisível para o IBGE e para a sociedade”, citou, lembrando que 70% dos moradores de rua vieram do mundo do trabalho. Para ela, a premiação vem em um bom momento. “Faz com que possamos sonhar com dias diferentes e fortalece esperança para lutar e resistir”
Discurso emocionante também veio da comunidade do Zeis Tororó, de Salvador (BA). Segundo o presidente e integrante da comunidade, Roberval Improta, a luta é incansável. “Querem tirar a gente para fazer o shopping, que vai favorecer a minoria que tem dinheiro”, constatou lembrando que os gestores públicos que deveriam se importar com a comunidade não estão atentando para o direito à moradia, mas apenas para ao interesse do capital. A fala foi sucedida pelo líder comunitário Evandro Almeida das Virgens. “Aqui a gente não para. A gente continua na resistência”, ponderou. Representando as entidades que apoiam a resistência no Tororó, Walter Takemoto, reforçou a relevância de lutar pelas comunidades antes do interesse privado.
Unindo as diferentes ações premiadas, a Campanha Despejo Zero foi a última a ser agraciada, em uma fala que resumiu a essência da noite. A representante da inicitiva Júlia Magnoni criticou o ataque às ocupações durante a pandemia. “Há famílias de Norte a Sul enfrentando atentados, miséria e uma onda de despejos durante a pandemia”, citou , lembrando que 123 mil famílias estão ameaçadas de despejo. E concluiu, lembrando que o direito à moradia é primordial à sociedade, principalmente agora em tempos de restrições e necessidade de isolamento social. Para fechar uma sequência de falas emblemáticas dignas de mobilizar lideranças sindicais de diferentes regiões do Brasil, Benedito Barbosa, destacou a força da unidade criada pelos premiados. “É um duplo reconhecimento da nossa luta em defesa da vida, no campo e na cidade. “Esse prêmio da FNA só ajuda a fortalecer a luta e a resistência pela moradia digna, pela reforma agrária e reforma urbana”.
Cerimônia marcou união do Ceau
Mostrando a unidade entre as diferentes entidades que representam a categoria, a cerimônia contou com diferentes autoridades de entidades de arquitetos e urbanistas. Representando a Asbea, o presidente Danilo Batista ponderou que o momento é uma demonstração da força da federação e determinação enorme em realizar um trabalho ininterrupto pela arquitetura. “Que estejamos todos juntos em um trabalho coletivo por muito tempo”.
A importância da presença dos estudantes no Ceau foi referendada pela diretora geral da Fenea, Mariana Giordani, ao agradecer o espaço dados aos estudantes em debates profundos como o ENSA. A presidente da Abap, Luciana Schenk, lembrou que arquitetos e urbanistas representam uma profissão com uma importante missão a desempenhar.
Representando a ABEA, Carlos Eduardo Nunes Ferreira, citou que as entidades do colegiado nunca estiveram tão próximas. “Confirmando o dito popular que a união faz a força, estamos juntos aqui no ENSA, como estivemos na UIA e como temos trabalhado pelo futuro da profissão”.
Presente no evento, a presidente do IAB, Maria Elisa Baptista, saudou os colegas e desejou que logo possamos estar juntos em eventos presenciais que unam a categoria. Por meio de vídeo, a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, lembrou que há 25 milhões de moradias precárias necessitando de profissionais de arquitetura e urbanismo e que é preciso defender uma gestão democrática que garanta acesso à moradia. “As premiações da FNA desta noite valorizam o trabalho social para melhorar o país. Em um momento perverso, essa premiação valoriza a arquitetura social. É disso que o Brasil precisa”.
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