“Eles friccionam a situação profissional naturalizada; a distância entre o pensar e o fazer arquitetônicos se reduz; passam meses no campo de trabalho junto às pessoas que vão usufruir de seus projetos. O projetista e executor voltam a ser a mesma pessoa – quer dizer, várias pessoas, um coletivo. A autoria é colocada em xeque”. Arquiteto e escritor, Francesco Perrota, o moderador do debate “Emergência de um novo arquiteto” no UIA2021RIO, foi preciso ao apresentar as características comuns ao trabalho de Jane Hall, fundadora do coletivo Assemble, no Reino Unido, e Esteban Benavides, fundador do coletivo Al Borde, na Colômbia. Cada aspecto destacado pelo moderador pode ser aprofundado ao longo do debate.
Jane Hall iniciou sua apresentação mostrando uma foto dos integrantes do grupo em cima da estrutura de madeira de uma casa e comentou que a essência do trabalho do Assemble é ajudar a construir: “então, nós fechamos a conexão entre o arquiteto como designer e como construtor”, disse. Ela considera a participação das pessoas na construção do espaço que habitam uma atitude cívica.
Jane mostrou vários projetos do Assemble, a começar pelo que deu origem ao coletivo – o Cineroleum, um cinema instalado em um posto de gasolina desativado. A arquiteta falou sobre a diversidade de saberes – como a marcenaria e as artes plásticas – que o grupo reúne e também contou das pesquisas e experiências com diferentes materiais: “nós procuramos entender como as coisas são feitas”.
Esteban Benavides reforçou alguns pontos de vista de Jane e destacou a questão da colaboração como algo fundamental para o Al Borde: “a primeira coisa que nós procuramos é compreender nossas limitações; à medida que os desafios se tornam maiores, a necessidade de colaboração se torna evidente”, pontuou.
Benavides também falou sobre a participação das comunidades e ressaltou que ela ocorre não só pelo desejo do grupo em incluí-las no processo, mas porque “são as comunidades que, com suas necessidades, efetivamente definem o projeto”. E complementou sua explanação falando sobre o aprendizado e o uso de técnicas e materiais locais, como resultado da colaboração. Como exemplo, mostrou imagens da construção da Escuela Nueva Esperanza, em que foi usado couro de vaca na amarração da estrutura. “Nós não conhecíamos essa técnica e isso só foi possível com a interação com os moradores do local”.
Sobre os palestrantes:
Jane Hall criou o Assemble, em 2010, com outros 17 arquitetos recém- graduados no King’s College da Universidade de Cambridge. Eles transformaram um posto de gasolina desativado em um cinema, o Cineroleum. Depois, fizeram um centro cultural embaixo de um viaduto. E mais tarde embrenharam-se pelo Granby Four Streets, no Toxteth, subúrbio degradado de Liverpool, onde revitalizaram quatro ruas, com o apoio e a contribuição dos moradores, usando materiais reciclados.
Com este feito, em 2015, o Assemble venceu o Prémio Turner, o mais prestigiado da Europa para as artes visuais, organizado pela Tate Gallery, em Londres. Foi um rebuliço pois, pela primeira vez, o prêmio era concedido não especificamente a um artista por uma obra, mas a um coletivo – e a toda uma comunidade – pela transformação de um espaço público.
Em paralelo ao trabalho com o Assemble, Jane Hall foi vencedora, em 2013, da primeira edição do Lina Bo Bardi Fellowship, programa de bolsas de estudo
– sobre o trabalho da arquiteta modernista ítalo-brasileira – concedidas a pesquisadores britânicos.
Em Quito, no Equador, Esteban Benavides fundou o Al Borde, em 2007, também com seus colegas jovens arquitetos Pascual Gangotena, David Barragán e Marialuisa Borja. Fazer muito com pouco era – e ainda é – um lema para o grupo que tem se destacado com projetos capazes de transformar escassez em estética e empoderamento social.
Instalada em um vilarejo litorâneo, a Escuela Nueva Esperanza é um dos projetos premiados do coletivo. E foi construída a partir de práticas vernaculares e materiais naturais ou reciclados disponíveis no local.
O Al Borde participou de exposições icônicas como “Think Global, Build Social! Architectures for a Better World” (Vienna, 2014) e “Reporting from the Front” na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2016.
Sob o eixo temático Mudanças e Emergências, o debate faz parte da Semana Gratuita UIA2021RIO. Para saber mais e assistir os debates gratuitos, acesse: https://aberto.uia2021rio.archi/
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