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Caminhos alternativos na formação em arquitetura
No início de março deste 2021, o ArchDaily – plataforma global de comunicação sobre Arquitetura – divulgou o resultado de uma seleção dos melhores projetos de estudantes de universidades latino-americanas e espanholas. De um total de 305 inscritos, foram destacados 20 trabalhos. Entre eles, consta o projeto de um abrigo para arrieiros, na região do The post Caminhos alternativos na formação em arquitetura appeared first on FNA.Read More
No início de março deste 2021, o ArchDaily – plataforma global de comunicação sobre Arquitetura – divulgou o resultado de uma seleção dos melhores projetos de estudantes de universidades latino-americanas e espanholas. De um total de 305 inscritos, foram destacados 20 trabalhos. Entre eles, consta o projeto de um abrigo para arrieiros, na região do Maule, no Chile, a 1.340 metros de altura. Feito com pedras e restos de placas de sinalização, o abrigo atende aos que conduzem o gado em meio às cordilheiras buscando pastos verdes. “É bem raro e causa estranheza ver o projeto destacado num concurso em que tudo é muito requintado”, comentou o arquiteto Juan Román, idealizador e diretor da Escola de Arquitetura da Universidade de Talca, no Chile, logo no início de sua apresentação no debate Singularidade e Globalidade, no 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO.
Juan Román falou com orgulho: o projeto é de autoria de Bernardita Marchant, aluna de Talca. “Há uma transgressão – seja ela explícita ou implícita. Não é o extraordinário, mas o singular, o estranho”, complementou o professor indicando, com sutileza, o que a Escola de Talca traz como princípios e o que a faz reconhecida internacionalmente como uma instituição de ensino inovadora.
Talca é uma cidade de médio porte, no Vale Central, região de tradição agrícola. Para concluir o curso de Arquitetura, cada aluno apresenta uma “Obra de Título”, projeto arquitetônico de pequena escala para atender demandas da região. Os projetos são apresentados pelos estudantes ao Conselho Municipal ou a empresários para obtenção de financiamento. E são construídos também pelos estudantes.
Juan Román prosseguiu mostrando imagens de outros trabalhos: uma estrutura para os coletadores de framboesas, um refúgio para pescadores, um comedor temporário para quem trabalha nos vinhedos; um mirante às margens do Rio Maule e outro em meio à cordilheira. “Em geral, as obras que saem de Talca exercem fascínio”, comentou.
Singulares, estas obras – e os seus autores – ganham projeção global: Juan Román lembrou o trabalho do jovem Rodrigo Sheward – o mirante Pinohuacho – que ganhou as páginas de mais de 20 publicações internacionais, entre elas as capas das revistas + Arquitetura, de Portugal e C3, da Coreia, além do livro Wood Architecture Now, da editora alemã Taschen.
Segundo Román, a Escola de Talca valoriza a origem dos seus estudantes, filhos de pescadores ou campesinos, que fazem projetos relacionados às suas realidades, quase sempre com pouca tecnologia, baixo custo, materiais reciclados e total atenção à sustentabilidade. Da realidade do Vale Central chileno, o UIA2021RIO levou os espectadores do debate a outra experiência de ensino e prática da Arquitetura em área rural: desta vez, no Alabama, onde Rusty Smith dirige o Rural Studio, programa de Construção de Design da Auburn
University. Ele apontou no mapa dos Estados Unidos a região chamada de Black Belt, um cinturão formado por condados rurais pobres, com um histórico de extração de recursos – “nunca devolvidos ao local”. Nessa região, os estudantes do programa praticam a construção de moradias para a população. “Nossos alunos trabalham com clientes reais, na esperança de produzir projetos reais, com orçamentos reais, cronogramas reais”, contou.
Além da habitação – que é o foco do programa – os estudantes também fazem alguns projetos de equipamentos comunitários, como a estrutura para um Corpo de Bombeiros. Mediadora do debate, a arquiteta Kristine Stiphany, professora no College of Architecture da Texas Tech University, comentou de suas experiências em favelas de São Paulo, abrindo a oportunidade para Rusty falar das diferenças entre o trabalho nos ambientes precários urbanos e rurais. Ele pontuou, por exemplo, que nos condados do Alabama os estudantes vivenciam as condições da comunidade – não se trata de um cenário alheio, como em geral ocorre quando arquitetos trabalham para áreas pobres no contexto urbano.
Kristine também questionou os debatedores a respeito da escala e do impacto de suas ações. Juan enfatiza que “a escala local é muito interessante” e Rusty lembra que, como educadores, tanto ele como Juan “impactam as novas gerações que saem pelo mundo a projetar”.
Sobre os aspectos pedagógicos, Juan contou que na Escola de Talca exercita-se muito a crítica e a própria escola é submetida a avaliações e questionamentos de profissionais da Europa e da América do Sul, convidados a visitar os projetos e conversar a respeito. “Essa conversação nos permite adquirir outras visões e avançarmos constantemente. Fora isso, a crítica e as avaliações são também constantes pela comunidade, pois os projetos ficam lá – resistem ou não, conforme o uso”.
Juan destaca que os trabalhos têm relação com a época em que são produzidos e são também resultado de características pessoais e do desenvolvimento de cada aluno. “Há o respeito pelo que o aluno é e pelo que pode ser. Os resultados são variados e têm que ser. Isso se sustenta porque o território está sempre mudando e exigindo novas respostas”.
Sobre esse aspecto, Rusty acrescentou que, por vezes, os professores são desafiados em situações que desconhecem e os alunos contribuem ao enxergar soluções que “a experiência impede aos professores de ver”.
Para assistir o debate na íntegra, acesse:
https://aberto.uia2021rio.archi/semana-aberta-uia2021rio/globalidade-e-singularidade/
Fonte: Assessoria de Imprensa UIARio2021
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