“Nossas sociedades têm se baseado na ideia de um ser humano autônomo, isolado, que, quanto mais independente for, melhor. Mas os seres humanos são ecodependentes e interdependentes. Isso significa que fazemos parte de um ambiente comum, de um mesmo planeta – e temos que cuidar dele – e que dependemos uns dos outros e devemos The post UIARio2021: O cotidiano como base para o planejamento das cidades appeared first on FNA.Read More

“Nossas sociedades têm se baseado na ideia de um ser humano autônomo, isolado, que, quanto mais independente for, melhor. Mas os seres humanos são ecodependentes e interdependentes. Isso significa que fazemos parte de um ambiente comum, de um mesmo planeta – e temos que cuidar dele – e que dependemos uns dos outros e devemos também cuidar uns dos outros”.

Esse pensamento de Zaida Muxí, no início de sua apresentação, nesta segunda-feira, 19 de abril, no UIA2021RIO, direcionou o debate Gênero e Cultura, que contou ainda com Gabriela de Matos e Tainá de Paula na moderação. As três arquitetas falaram sobre o ideal de cidades do bem-viver, sobre o importante papel das mulheres na construção destas cidades e sobre o potencial de organização para isso, entre outras questões.

Zaida Muxí destacou que os “cuidados estão na base da vida”; que historicamente estiveram atribuídos às mulheres e sempre foram desvalorizados; mas que devem ser exercidos igualmente por todos, reconhecidos e vangloriados. E acrescentou que o espaço urbano deve refletir e favorecer esses cuidados, permitindo maior autonomia e liberdade para o ser humano.

Os cuidados a que se referiu a arquiteta argentina, que mora e trabalha há mais de trinta anos na Espanha, são os do cotidiano e ela reforçou que “a vida cotidiana deve fazer sua a cidade”. Zaida, então, apresentou vários exemplos de intervenções urbanas feitas em Barcelona com o intuito de recriar espaços públicos. Segundo ela, desde 2017, todas as propostas urbanas na capital catalã são elaboradas sob a perspectiva de gênero, e, entre 2020 e 2021, cerca de 50 hectares foram subtraídos do espaço dos automóveis e recuperados para a permanência, para o caminhar, para os encontros, para o lazer. “Não são espaços comerciais, nem produtivos, nem para a passagem de veículos, e sim para a vida cotidiana”.

Criadora do projeto Arquitetas Negras, um mapeamento da atividade atual de mulheres negras brasileiras na Arquitetura, Gabriela de Matos comentou da “hostilidade histórica das cidades com as mulheres negras” e pontuou: “nós não estamos produzindo soluções para o cotidiano que conhecemos tão bem”.

As razões são diversas e vão desde o acesso à formação em Arquitetura, ao conteúdo formativo e às discriminações no mercado de trabalho. “Embora muitas arquitetas negras da periferia tenham capacidade e vontade para atuar nesses locais, grande parte da formação em arquitetura no país está voltada para o atendimento das elites”, comentou, acrescentando que pouco se estuda o trabalho de mulheres arquitetas (quase sempre as referências são masculinas) e praticamente nada é apresentado sobre arquitetura de matriz africana (à exceção do curso da Universidade Federal da Bahia).

Gabriela também falou da diferença salarial: “a maior parte das arquitetas negras está desempregada ou recebe até dois salários mínimos. A renda média da arquiteta negra é a metade da do arquiteto branco”.

A apresentação de Gabriela levou ao questionamento sobre a capacidade de organização das mulheres para a transformação das cidades. Zaida Muxí contou que os avanços conquistados em Barcelona são resultado de esforços de muitas décadas.

Rompendo quaisquer protocolos que pudessem balizar o debate, Zaida questionou a moderadora Tainá de Paula, que atualmente exerce o mandato de vereadora no Rio de Janeiro, sobre as oportunidades de transformação a partir sua atuação política. Tainá apontou as adversidades e os desafios que enfrenta na Câmara Municipal, lembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco – que denunciava as opressões raciais e de gênero – mas adiantou que, por ocasião da revisão do Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro, tem como meta a inclusão de capítulos específicos sobre equidade racial e de gênero no planejamento urbano.

Mencionado por Gabriela de Matos, o lema “organização já!” – da filósofa, antropóloga, professora, escritora e militante do movimento negro e feminista, Lélia Gonzalez – foi retomado ao fim do debate, incitando mais encontros, trocas e iniciativas de mulheres para a criação de cidades mais justas e saudáveis.

Para assistir, acesse: https://aberto.uia2021rio.archi/semana-aberta-uia2021rio/genero-e-cultura/

Fonte; Assessoria de Imprensa UIARio2021

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