Segunda maior fonte de poluição e responsável por ceifar anos de vida de cidadãos brasileiros, o ruído é um problema emergencial a ser enfrentado por gestores públicos. Apesar de invisível, o dano à saúde mental e física é irreversível e exige atenção de profissionais, principalmente daqueles envolvidos com o planejamento urbano. A gravidade do assunto reuniu arquitetos e urbanistas de diferentes regiões do Brasil, lideranças e representantes do Poder Público na live “Mapa de ruído: planejando cidades melhores para as pessoas”, promovida pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas em seu canal do YouTube nesta quinta-feira (25/02).
Mediado pelo arquiteto e urbanista Cicero Alvarez, o encontro reuniu dois dos maiores especialistas em acústica do país: a arquiteta e urbanista e doutora em Engenharia Acústica Carolina Monteiro e o presidente da Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac), Krisdany Cavalcante. “O Mapa de Ruído é uma ferramenta de política pública e de prevenção dos conflitos urbanos”, pontuou Cavalcante, citando o alto índice de conflitos gerados em função do problema. Em Belo Horizonte, por exemplo, 67% das reclamações ambientais são decorrentes da poluição sonora.
Ao contrário do que muitos podem pensar, a poluição sonora não traz danos apenas à audição. Cavalcante citou os efeitos fisiológicos e psíquicos do excesso de ruído e lembrou que construir estruturas capazes de minimizar e/ou neutralizar esse impacto é tarefa dos profissionais da construção civil. “O som é energia, e ela impacta em todo corpo, incluindo as alterações hormonais decorrentes da nossa exposição à energia sonora. Nós profissionais precisamos avaliar requisitos acústicos em nossos ambientes construídos”, esclareceu.
O que fazer
Carolina explica que há diversas formas de minimizar o ruído de uma determinada região e que elas variam em complexidade e preço. Algumas vezes, a neutralização pode ser feita com troca da frota do transporte público, outras com orientação para novas edificações na área e até com o desvio de trânsito. Esgotadas as opções anteriores, indica ela, parte-se então para reflexão sobre a construção de barreiras físicas. “Quem trabalha com acústica não quer barreiras. É efetivo e caro e por isso precisamos usar em doses homeopáticas”, pontuou. Segundo ela, agir no receptor com adoção de barreiras em janelas de residências, por exemplo, é a última e mais dispendiosa opção. Antes disso, citou ela, há várias ações, inclusive educacionais. “É algo que precisa de vontade política e mobilização popular. Exige um somatório para isso se mover”.
A posição é reforçada pelo presidente da Sobrac. “O trabalho que temos que fazer é muito grande e tem que ser feito a muitas mãos. Não são questões meramente técnicas porque envolvem residentes, investidores, gestores públicos. É um tema que permeia a todos”, pontuou, lembrando que estamos em plena comemoração do Ano Internacional do Som (2020/2021), agenda que inclui diversas ações e debates com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre o tema. O Brasil também sediará em 2021 o 12º Congresso Iberoamericano de Acústica, agendado para o mês de agosto em Florianópolis (SC).
Os Mapas
Geralmente, os mapas de ruído se caracterizam por uma imagem colorida estanque da situação sonora de uma região. Contudo, os especialistas recomendam seu cruzamento com o chamado mapa de sensibilidade do local, o que resulta em um Mapa de Conflito, esse sim capaz de indicar ações práticas a serem adotadas. Na hora de intervir em uma região com uma edificação, recomenda Carolina, o profissional deve dar um zoom, sair da escala e observar medições específicas do terreno de forma a adotar na futura construção o isolamento necessário. “A ação é voltada sempre para proteção do receptor.” Em algumas cidades ao redor do mundo, o assunto é tratado com tanta seriedade que já se dispõem, inclusive, de mapas dinâmicos com sensores instalados de forma permanente. É o caso de Paris e Londres.
Para o futuro, os especialistas preveem a redução dos ruídos no trânsito com a adoção de veículos elétricos. No entanto, a solução para o problema sonoro dos grandes centros urbanos está longe. Além da necessidade de os próprios carros elétricos emitirem som para minimizar risco de acidentes, há outros ruídos inoportunos nas ruas que se sobressairão. “O desafio não acaba, se transforma”, salientou Carolina.
Saiba mais em: https://fia2020.com.br/ e http://acustica.org.br/2021/01/fia-2020/
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