Qual a importância da preservação do patrimônio histórico da cidade de Santos? Este questionamento motivou a parceria entre o cineasta Dino Menezes e o arquiteto Rafael Ambrosio para a realização do documentário Cidade do Mar, que foi lançado no dia 25 de novembro em evento no Museu da Imagem e do Som de Santos (MISS). O filme, atualmente, está disponível gratuitamente no YouTube.
O projeto foi idealizado em um encontro dos dois amigos que, entre outras coisas, têm em comum o interesse pela história e arquitetura da cidade litorânea. “Sempre fui bastante curioso em relação à origem de Santos, principalmente no que podemos conhecer dela ao olhar para os prédios e monumentos mais antigos”, conta Menezes.
“Assim, em contato com o Rafael, surgiu a ideia de registar em imagens e depoimentos um retrato sobre o patrimônio cultural de Santos”, acrescenta. Teve início, então, o projeto Cidade do Mar, que foi contemplado em dois editais do setor cultural em 2020: o 8º FACULT, concurso de apoio a projetos culturais independentes no município de Santos, e o ProAC Expresso Lei Aldir Blanc nº56, do governo do Estado.
Com 24 minutos de duração, o filme aborda o processo de urbanização de Santos, a partir da relação de seu território com o mar, e traz reflexões sobre as noções de patrimônio, a importância da preservação, inclusive das identidades, e as perspectivas para o futuro.
Abrangendo desde a origem da cidade, ainda como vila, até os dias atuais, apresenta fotografias, pinturas históricas e imagens captadas em drones, além de entrevistas com especialistas. “Busquei trazer o olhar da arquitetura para o cinema, juntando a tecnologia de imagem mais antiga, representada por uma pintura de Benedito Calixto, com a mais moderna, ou seja, as imagens captadas por drone”, explica o diretor.
Séculos de história
As locações escolhidas para as gravações foram a Cadeia Velha de Santos, a Casa da Frontaria Azulejada e o Teatro Guarani, que estão entre as construções históricas mais significativas da cidade. “Partimos da reflexão de que, às vezes, as pessoas não apreciam e batalham pela preservação do nosso patrimônio histórico e arquitetônico, simplesmente, porque não conhecem o seu valor”, explica o arquiteto Rafael Ambrosio.
“Assim, a produção tem como objetivo proporcionar mais conhecimento, para os santistas, e os brasileiros, sobre a questão da preservação do patrimônio, que ultrapassa a manutenção da memória edificada. Queremos debater sobre como aliar desenvolvimento econômico e social à manutenção das referências das várias identidades. Isso, na minha visão, é o desafio a ser vencido”, afirma.
Segundo o arquiteto, o centro histórico de Santos é um museu a céu aberto, com edifícios que remontam a séculos de história, não só da cidade, mas do Brasil. Mas, mesmo assim, sofre constante pressão para demolições. “Nesse intuito, especuladores recorrem à falsa afirmação de que as leis de proteção do patrimônio atrapalham o desenvolvimento, quando, na verdade, é sua destruição que põe em risco o nosso futuro. Querem acabar com o que temos de mais rico”, alerta Ambrosio.
Uma das construções representativas da cidade que já não existe mais, o Parque Balneário, é um dos destaques do filme. Demolido em 1973, o Hotel foi símbolo de glamour da época áurea do café, no começo do século 20. Para poder apresentar na produção o seu luxuoso edifício, o diretor Dino Menezes recorreu à pesquisa fotográfica. “Considero uma perda enorme a destruição desse marco arquitetônico da cidade”, lamenta.
Influências Lusitanas
Além de Ambrosio, o documentário tem como entrevistados os historiadores Adriana Negreiros e Reinaldo Martins, a arquiteta Jaqueline Fernández, a educadora Joice Mendes e o cientista político Rafael Moreira. O filme conta, ainda, com trilha sonora original, que foi encomendada a um músico brasileiro que atua em Portugal, Nilson Dourado. “Como temos muitos marcos da origem portuguesa na nossa arquitetura, ele produziu uma trilha com influências lusitanas”, finaliza Menezes.
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