A história da luta pelos direitos sociais, e contra o preconceito, precisa ser contada com verdade e propagada em um enfrentamento claro ao status político-ideológico existente hoje no Brasil. Consciente do trabalho desempenhado por jornalistas em retratar relatos inspiradores de resistência, a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) reuniu em mesa, na manhã deste sábado (27/11) durante o 45º ENSA, três grandes biógrafos brasileiros: Fernando Morais, Bianca Santana e Camilo Vannuchi. Mediada pela presidente da FNA, Eleonora Mascia, e pelo secretário de Organização e Formação Sindical, Danilo Matoso, o encontro ainda contou com a presença da arquiteta e urbanista Clara Ant, que também prepara livro com relatos de sua vivência de luta ao lado do presidente Lula. “Uma mesa dessas é um grito contra o negacionismo”, ponderou a ex-vice-presidente da FNA garantindo que a resistência está em pé.
Em uma fala descontraída e repleta de relatos cativantes, o jornalista Fernando Morais trouxe um pouco sobre o processo de criação de suas obras, entre elas a recém lançada biografia intitulada “Lula – Volume 1”. Autodeclarando-se um arquiteto frustrado, Morais tem 6 milhões de exemplares vendidos e dezenas de prêmios. Confiante da eleição de Lula em 2022, informou que seu recente lançamento mostra todos os lados dos fatos e que não teve nenhum tipo de intervenção em sua redação. “Lula já entrou na história pela porta da frente”, disse confiante de que o tempo irá escancarar a verdade sobre os fatos que resultaram na prisão do ex-presidente do Brasil e no golpe.
Com 50 mil exemplares comercializados em apenas oito dias, a obra contará com um segundo volume. “Lula é um presente para um autor. Não é o político tradicional”, pontuou, lembrando que revisou sua própria decisão de não produzir mais biografias de pessoas em vida para assumir o desafio de contar a história de um personagem tão forte e polêmico.
Em uma fala encantadora que emocionou lideranças sindicais de diferentes regiões do Brasil, a jornalista Bianca Santana contou em detalhes a vida da ativista da causa antirracista Sueli Carneiro. Mulher negra nascida nos anos 50 e residente em São Paulo, ela enfrentou as dificuldades de ser uma das poucas estudantes negras da USP a cursar filosofia. Indignada com a recusa do mercado de trabalho devido à cor da sua pele, deu início a estudos e apontamentos conceituais sobre o racismo no Brasil e sobre a “boa aparência no mercado de emprego”, atuando pela criminalização do racismo. “Sueli se define como uma ativista, e sua produção intelectual foi para apoiar a militância. Tudo o que ela escreveu foi para criar argumento político para a luta”, explicou Bianca.
Em uma análise profunda sobre a raiz racista da sociedade brasileira, a jornalista lembrou que, enquanto a ascensão social de pessoas brancas acontece de diferentes formas, a população negra tem no serviço público e na luta sindical lastros para a conquista de direitos mínimos. Mencionando a origem do nome do livro “Continuo preta – a vida de Sueli Carneiro”, Bianca relembrou frase dita pela mesma em entrevista: “Eu, entre a direita e a esquerda, continuo sendo preta” em referência clara ao uso da população negra para mobilizar interesses.
Em sua manifestação por meio de vídeo, Camilo Vannuchi falou sobre a produção da biografia da ex-primeira dama intitulada Marisa Letícia Lula da Silva, que conta sua vida e participação na criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Incomodado por uma enxurrada de biografias de direita que invadiram as livrarias logo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Vannuchi disse que a motivação veio ao pensar que “não era possível que a história fosse contada daquele jeito”.
O escritor citou que Marisa Letícia foi muito presente na composição do PT, tendo criado inclusive o núcleo no bairro Assumpção, em São Bernardo do Campo (SP), e confeccionado centenas de camisetas nos tempos de campanha nos anos 80. “Acho até uma injustiça histórica ela não estar na mesa de fundação do PT em 1980”, declarou.
Acesse a live na íntegra aqui.
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