Aplicar conceitos de sustentabilidade em habitações vai muito além da necessidade de se buscar certificações (LEED, AGUA, EDGE). Pode ser uma simples troca de torneira, lâmpada e revestimentos e até mesmo mudança de hábitos dos usuários. A sustentabilidade na arquitetura é possível para todos, o importante é dar o primeiro passo em ações que repercutem positivamente no ambiente em que se vive ou trabalha. Isso é o que move a arquiteta e urbanista gaúcha Marcela Furtado Green desde quando cursava o segundo semestre na Faculdade Ritter dos Reis, hoje UniRitter, em Porto Alegre.
Já naquela época, Marcela despertou para as práticas que hoje estão consolidadas como fonte de economia, ganho operacional e conforto, sejam em ambientes corporativos ou residências. Em 2013, 12 anos após a graduação e após passagens por alguns escritórios, a arquiteta e urbanista teve o primeiro grande desafio profissional.: foi convidada a integrar equipe da Secretaria do Patrimônio, vinculada ao Ministério do Planejamento e, como missão, desenvolver projeto de reforma do Bloco O da Esplanada, em Brasília (DF), na época ocupado pelo Ministério da Defesa. A proposta era tornar o prédio um modelo piloto com o conceito retrofit completo, com adequação e revitalização do imóvel buscando torná-lo mais eficiente do ponto de vista operacional. “Esse foi um pedido da ministra na época, Miriam Belchior, para que o Bloco O se tornasse referência em padrões de certificação na Esplanada. Ele seria o piloto que que o mesmo conceito pudesse ser implantado em todos os demais prédios da administração pública federal”, diz Marcela, que foi responsável pelo Grupo de Trabalho que envolveu diversos profissionais da Arquitetura e Engenharia do Ministério.
O conceito retrofit, que busca a melhoria de instalações antigas com atualizações do espaço, correção de problemas, redução de custos operacionais e aumento do conforto, foi o escolhido para o Bloco O, prédio com mais de 50 anos. De acordo com Marcela, as ações definidas no projeto consideraram a necessidade de prolongamento da vida útil da edificação, facilitando sua manutenção e redução do seu custo; da otimização do espaço existente visando a racionalidade de uso, maior flexibilização e melhoria das condições físicas de trabalho; do pleno atendimento às normas vigentes na ocupação de uma edificação de visibilidade nacional. A missão foi cumprida em 2018 e, recentemente, foi vencida a licitação para a contratação da obra tendo como base o relatório produzido pela equipe da qual Marcela fez parte.
Com a bagagem profissional adquirida em Brasília e a certeza de que a construção civil é um dos maiores consumidores de recursos naturais (água, energia e materiais), que Marcela deu o pontapé inicial para abrir seu próprio negócio: o escritório Viva Green, estabelecido em 2018 no bairro Bela Vista, na capital paulista. Levou para dentro do escritório a proposta de implantar o retrofit em condomínios e residências, uma demanda que se mostrou em expansão na pandemia, diante da necessidade de economia financeira e ampliação do conforto e saúde das pessoas dentro de casa. “O mercado já despertou para a sustentabilidade, mas muito mais voltado para a questão da valorização do imóvel, que chega a ser de 8% a 12% superior a partir de uma operação mais eficiente”, afirma a arquiteta e urbanista. O desafio da sustentabilidade na construção civil, diz, ainda esbarra na questão do custo. “Na verdade, é um investimento que se paga em dois anos de operação do equipamento revitalizado. Um imóvel que passa por retrofit ganha vida longa, por isso é importante que o mercado tire o olho da construção e o coloque sobre a operação”, pontuou Marcela, lembrando que o preço final de uma obra com esse conceito não supera 2% de uma convencional.
Os ganhos da sustentabilidade em projetos de retrofit são para todos. Em um ambiente corporativo, por exemplo, significa o aumento de 15% em produtividade de recursos humanos, de 15% a 35% em economia de energia e de 50% a 60¨em consumo de água.
Além de se dedicar à produção de projetos nesta área, Marcela também percebeu uma oportunidade de expandir o conhecimento adquirido na aplicação da economia e da eficiência em projetos. Passou a prestar consultoria a arquitetos e engenheiros que possuíam demandas de clientes nesta área, mas que tinham pouco conhecimento sobre sustentabilidade. “A consultoria é voltada a profissionais que atuam com pequenas e médias obras, e a expectativa é que essa demanda cresça cada vez mais. Nos casos de projetos residenciais muitos têm orgulho em comentar e divulgar os ganhos em economia e conforto que estão tendo. Essa é uma forma de disseminar esse conceito tão importante nos dias de hoje”, considera a arquiteta e urbanista.
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