Em debate sobre Novas Práticas, no UIA2021RIO, a ativista social brasileira Carmen Silva e o arquiteto colombiano Edgar Mazo falam de projetos que essencialmente envolvem o cidadão
Todos os mundos. Um só Mundo. Arquitetura 21. O 27º Congresso Mundial de Arquitetos tem mostrado que a arquitetura é um elo que pode conectar pessoas de lugares e realidades bem distintos. No debate sobre Novas Práticas, que integra a programação de junho do UIA2021RIO, sob o eixo temático Transitoriedades e Fluxos, o arquiteto colombiano Edgar Mazo trouxe suas experiências na implantação de jardins públicos na periferia de Medellín. E Carmem Silva, líder do Movimento dos Sem-Teto do Centro de São Paulo, contou sua história de luta por moradia e cidadania. Em comum, a certeza de que as decisões sobre o espaço construído, sobre os seus usos, sua conservação cabem a um conjunto de atores sociais em que se destaca o próprio cidadão usuário.
Natural de Medellín, Edgar Mazo iniciou sua apresentação lembrando que as condições topográficas e o relevo sempre determinaram as formas de ocupação da cidade – a segunda maior da Colômbia – e são elementos relevantes para os estudos de arquitetura e urbanismo. Com sua equipe, Mazo pesquisou a arquitetura mesoamericana e andina, os rituais e modos de construção, com materiais e recursos locais, e, principalmente, a relação das comunidades com a vegetação. Para o arquiteto, reconectar a população com a natureza é o caminho para recriar a relação entre o homem e seu território, que foi perdida com o processo de urbanização da metrópole.
Com essa premissa, Mazo assumiu a gestão e o desenvolvimento de 20 parques em áreas periféricas de Medellín. E para a missão foi fundamental envolver os cidadãos. O arquiteto explicou que protocolos técnicos da Prefeitura de Medellín requerem que entre 70% e 80% das pessoas que constroem cada projeto sejam residentes locais, o que contribui fortemente para que a comunidade adote, tenha orgulho e cuide do local no dia a dia e por longo tempo. Ele também destacou que os conhecimentos técnicos adquiridos por essas pessoas acabam sendo usados em outras oportunidades, como a melhoria de suas próprias propriedades. Nesse aspecto, mencionou que “o uso de materiais reciclados – além de reduzir a pegada de carbono – promove uma compreensão recursiva e técnica que favorece a autoconstrução”.
Carmen Silva, em sua apresentação, também ressaltou a importância do trabalho dos arquitetos junto às comunidades: “hoje nós sabemos qual o direcionamento deve ter uma janela, qual peso podemos colocar em uma laje, o que é laudo estrutural”. E defendeu a ATHIS (Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social): “o arquiteto pode fazer seus trabalhos convencionais, mas ele também tem que se dedicar ao social”.
Atualmente, o MSTC coordena cinco ocupações, com quase 300 famílias, e tem a posse do edifício Cambridge, que está sendo reformado com recursos do programa Minha Casa, Minha Vida. O movimento é formalizado: tem CNPJ (que garante acesso a serviços públicos), estatuto e regimento interno registrados em cartório.
Contando sua história particular e a adesão ao movimento pela moradia, Carmen Silva explicou que, ao chegar da Bahia em São Paulo, sentiu-se como uma refugiada em seu próprio país. “O sentimento de pertencimento só veio quando eu comecei a participar do movimento pela descentralização do poder público, presenciar audiências públicas e ter uma consciência geopolítica e espacial da cidade”.
Com a moderação de Carlos Leite, professor da FAU-Mackenzie e do Insper, o debate abordou ainda gentrificação, impacto ambiental, preservação do patrimônio.
Para assistir, acesse: https://aberto.uia2021rio.archi/debates/novas-praticas/
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