Moderada pelo arquiteto e urbanista Nivaldo Andrade, integrante do Comitê Científico do UIARio2021, a live que fechou a Semana Aberta de discussões sobre o tema ‘Fragilidades e Desigualdades’ trouxe à tona pontos importantes dos debates que ocorreram ao longo de toda a semana, numa programação que reuniu virtualmente milhares de pessoas no mundo todo. De acordo com Nivaldo, a escolha do tema nas atividades neste mês de março se deu com o objetivo de entender qual é o papel da arquitetura e urbanismo na diluição das fronteiras entre cidades formais e informais, a conexão entre os dois lados dessa fronteira, a criação de novas centralidades e também de novos significados para esses lugares.
A provocação junto a renomados profissionais que atuam com seus projetos em áreas de risco por diversas partes do mundo se mostra urgente quando confrontada com uma realidade que aponta a existência de 1 bilhão de pessoas vivendo em assentamentos precários ao redor do planeta, outros 2,5 bilhões sem acesso à infraestrutura de saneamento e outros 1,8 bilhão de pessoas sem acesso à água limpa.
Para responder sobre o papel do profissional no enfrentamento dessas mazelas sociais, retornaram à programação do UIA, a suíça Fabienne Hoelzel, o norte-americano Alfredo Brillembourg e a brasileira Adriana Levisky.
Fabienne iniciou sua fala questionando se é possível haver inclusão social sem aumentar a desigualdade, algo que para ele é resultado de um problema político decorrente de governos disfuncionais. “Esperar sentado não é um bom conselho, por isso, creio que nós arquitetos e designers urbanos, precisamos tentar, através de nossa profissão, proporcionar essa inclusão e não esperar por políticos. Devemos inspirar políticos ao desenvolvermos projetos que tenham como foco uma abordagem de inclusão’, afirmou.
Ela, que atua na África Subsaariana, mais precisamente na região de Lagos, trouxe como exemplo de sua experiência por lá a existência da coprodução nas comunidades. “Quem faz a gestão da cidade de Lagos é o setor informal e isso precisa ser apoiado. A coprodução de serviços é algo que acontece nas favelas e não devemos lutar contra, pois afinal de contas essa realidade é fruto de políticas que falharam. É incrível o mecanismo que desenvolveram para fazer a gestão de suas vidas”, pontuou. Segundo Fabienne, é preciso que a arquitetura e urbanismo se volte para esses modelos híbridos – onde certamente não haverá uma clareza de conceitos – mas que carece de diálogos com as pessoas do local para entender como seguir em frente.
“Os arquitetos não criam cidades. São pessoas que criam cidades”, defendeu Alfredo Brillembourg, ao destacar que a atuação da arquitetura e design urbano remete a duas frentes distintas: arquitetura é uma espécie de acupuntura que insere um pedaço de ‘arquitetura’ em determinado local, sejam escolas, creches, parques ou casas. “É nesses espaços que a participação do arquiteto pode acontecer”, pontuou. Por outro lado, a ideia de conexão e urbanização precisa ser impulsionada pelo Estado, considerando sempre que há regras para o planejamento urbano, com percentual que precisa ser avaliado para espaços públicos, vias públicas, escolhas e demais equipamentos que compõem um modelo de cidade’, afirmou.
Mas porque é tão difícil para os políticos incluírem e implementarem os processos de infraestrutura em seus orçamentos? Para o especialista o que falta é uma metodologia de participação – algo já citado pela colega Fabianne em sua intervenção. “Então temos que nos perguntar qual o objetivo do dinheiro que temos disponível, o projeto, o lugar, o impacto social e como ter a melhor arquitetura para a menor necessidade’, pontuou o norte-americano, destacando que ambientes construídos em favelas são para ele. a expressão mais poderosa de construção humana que conheço, porque foi construída por pessoas para as pessoas.”
A arquiteta e urbanista brasileira Adriana Levisky reforçou que a ausência do Estado na implementação de estruturas urbanas em favelas cria, cada vez mais, uma demanda por metodologias participativas e instrumentos jurídicos que garantam a participação de diferentes atores na gestão e no planejamento urbano. E apontou que, para exercer esse papel de mediador e ter a “ação Política, com P maiúsculo”, o arquiteto precisa ter uma formação diferente, interdisciplinar e uma visão plural, intercultural, intergeracional.
A programação virtual do Congresso Mundial de Arquitetos prossegue no mês de abril, dessa vez trazendo para o debate o tema ‘Diversidade e Mistura’.
**A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) é organização parceira do Congresso UIARio2021 e, ao longo de toda a programação até o mês de julho, contará com uma ampla agenda de debates encabeçada por sua diretoria e seus sindicatos Na pauta estarão temas ligados aos desafios do mundo do trabalho e a implementação da ATHIS.
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Foto: C_Fernandes / Istock
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