Uma grande articulação formada por agentes das mais diversas áreas do conhecimento é o ponto de partida para começar a transformar as comunidades periféricas dos grandes centros urbanos em lugares melhores para se viver. Neste bolo estão poder público, universidades, técnicos das áreas econômica e social, iniciativa privada, escritório de arquitetura e urbanismo e, acima de todos, uma coordenação central capaz de receber o recado que vem das comunidades. A afirmação vem do argentino Jorge Jáuregui, arquiteto e urbanista e doutor pela Universidad Nacional de Rosario, que participou nesta quarta-feira (24) da programação da Semana Aberta UIA Rio2021 – Fragilidades e Desigualdades, dentro do tema “Arquitetura na Favela’.
Com uma experiência de mais de 30 anos em favelas do Rio de Janeiro, Jáuregui teve a oportunidade de acompanhar diversas iniciativas de urbanização de favelas já realizadas na metrópole fluminense. Para ele, o caminho não é apenas mobilizar a comunidade, mas sim, uma equipe multidisciplinar capaz de levar articulação para fora do local e fazer com que as demandas cheguem ao poder público. No entanto, é consenso que tal receptividade depende muito das circunstâncias políticas. Neste contexto, citou iniciativas positivas do passado como o projeto Favela-Bairro e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Hoje , diria que estamos em um processo de regressão, onde o que vemos é um poder público completamente surdo em relação a essas demandas”, pontuou Segundo o argentino, as vozes das comunidades são muitas e reverberam entre si através da tecnologia, das redes sociais e da comunicação de massa. Citou como exemplo o Jornal A Voz da Favela, do Complexo do Alemão. “Hoje as favelas se conectam entre si e há instituições próprias da comunidade. Isso já tem uma história”, disse.
O arquiteto e urbanista acredita que não há uma receita pronta para atuar no complexo contexto das favelas pois, na sua opinião, as metodologias se derivam da prática. E, mais uma vez, voltou a defender a presença de uma equipe multidisciplinar capaz de intervir e dar conta de tamanha complexidade das inúmeras comunidades e pessoas que habitam esses espaços. “É fazer e pensar, pensar e fazer, num vai e vem que não se esgota. Essa é a particularidade de tal intervenção’, destacou.
A outra participação foi do colombiano Alejandro Echeverri, considerado um dos responsáveis pelos mais arrojados projetos de intervenção urbana e social em Medellín, sua cidade natal, realizados entre 2004 e 2008. Segundo ele, a arquitetura é capaz de mudar comportamentos, e se torna uma ferramenta indispensável para ajudar a construir melhores histórias nos espaços urbanos. Após mais de 20 anos estudando os temas complexos das cidades, o arquiteto e urbanista concluiu que o processo de transformação nunca se esgota. “A transição nas comunidades é permanente, não há nada que seja definitivo. As tais fragilidades, que propõem esse debate, significa que temos que aprender a ler e ver como nossas ferramentas poderão contribuir para o futuro’, disse.
Para Echeverri, a formação dos profissionais arquitetos e urbanistas deve pender para o caminho colaborativo e flexível, onde a tecnologia se mostra como aliada. Defendeu também uma maior conexão entre profissionais experientes e estudantes – algo que considera ainda um desafio para a profissão.
A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) é organização parceira do Congresso UIARio2021 e, ao longo de toda a programação até o mês de julho, contará com uma ampla agenda de debates encabeçada por sua diretoria e seus sindicatos Na pauta estarão temas ligados aos desafios do mundo do trabalho e a implementação da ATHIS.
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